AGULHA DO MIDI [mallory-porter + variante cecchinel]


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A Agulha do Midi, e em especial a sua face norte, domina a vista desde Chamonix. Em conjunto com o seu teleférico não há ninguém que não conheça esta agulha.

São várias as vias nesta face, algumas bastante conhecidas como é caso do Esporão Frendo. Numa ida aos Alpes durante a primavera aproveitamos a época e as condições para fazer a via Mallory-Porter que percorre esta face em vertical com a agulha do Midi. Esta é uma via, assim como muitas desta face, só tem condições na primavera ou muito no inicio do verão, senão for um ano seco, já que se trata de uma via essencialmente de neve e estar localizada a uma altitude relativamente baixa.

Aberta em 1919 foi sofrendo “correcções” em algumas zonas (essencialmente para seguir pelas zonas de neve) até se tornar na linha existente hoje em homenagem aos seus primeiros escaladores. É uma via relativamente acessível onde os 1500 metros de desnível são uma das maiores dificuldades. Dado ter do teleférico tão próximo o acesso é bastante curto, e em cerca de 1h a 2h podemos estar na base da via. É uma via bastante directa e que liga vários campos de neve cortados por bandas de rocha. Em média encontramos pendentes entre os 45 e os 60º epassagens de IV+ nas zonas de rocha. Em algumas partes da via, e segundo as condições, é possível progredir em cordada em movimento colocando pontos intermédios.

Apesar da dificuldade acessível é uma via para encarar seriamente. Trata-se de um percurso com orientação a norte e que após um nevão importante pode levar vários dias a ficar em condições. Essencialmente a parte superior acumula bastante neve que dão origem avalanches que podem varrer toda a zona alta. A melhor altura para a escalar são os períodos mais frios depois de a neve ter estabilizado. Quando a fizemos, e mesmo depois de termos estado vários dias à espera, encontramos os campos intermédios sempre com neve pelos gémeos, chegando em alguns

pontos a próximo da cintura, o que nos atrasou imenso. Ao menos a parte superior estava mais ou menos limpa o que facilitou a progressão. Mesmo assim não conseguimos sequer andar próximo do horário de quando a via está em condições demorando cerca de 15 horas no total.

Nós optamos por efectuar uma variante de entrada conhecida como a variante Cecchinel para “apimentar”. Esta variante é de maior dificuldade e nem sempre conseguimos encontrá-la em condições. São cerca de 3/4 lances de gelo, com média de 70º e alguns ressaltos talvez com um pouco mais, que ligam o inicio da via com o campo intermédio, aumentando a dificuldade total e mas também interesse.

APROXIMAÇÃO
Da estação intermédia do teleférico da Agulha do Midi seguimos para sudeste através do trilho existente na moreia do glaciar do Pelerins. Aos 2365 metros de altitude curtamos à direita descendo para o glaciar. Atravessamo-lo em direcção sudoeste, tendo como objectivo a base do esporão Seigneur. Depois de o contornar subir a pendente até passar a rimaia de acesso ao canal de entrada.

VIA
Depois da rimaia continuar pelo corredor uns 150 metros para a seguir virar à direita para seguir por um campo de neve barrado por um primeiro muro de rocha. A via Mallory segue o campo neve para a direita passando a banda através de uma escalada de uns 40 metros de IV/IV+ e atingir a longa banda de neve. A variante que seguimos não vira à direita no muro de rocha, mas continua por uma interessante goullote de gelo com 3/4 lances de 70º. Nestes lances é possível proteger bem no gelo e montar reuniões com pontos em rocha.
Esta variante encontra novamente com a Mallory-Porter no grande campo de neve que segue da direita para a esquerda. Foi esta zona que nos atrasou durante a nossa subida. Encontramos neve profunda que nos estourou fisicamente.

No final desta longa pala de neve (50/55º) encontramos uma nova banda de rocha que contornamos pela sua base esquerda para logo continuar por um canal de uns 60º até alcançar uma aresta de neve.
Continuamos pela aresta de neve, contornando os vários blocos existentes, seguindo em direcção à agulha do Midi. Entre esta aresta e a parte superior encontramos varias zonas com gelo negro, o que contrastou com a grande quantidade de neve que tínhamos encontrado anteriormente. O cansaço da subida da pala de neve acabou por cobrar a sua influência nesta zona. Para garantir a segurança acabamos por realizar muitos mais lances do que habitualmente é necessário. Normalmente é possível fazer grande parte desta zona de neve em cordada em movimento.
Depois destas placas curtamos sobre a esquerda em direcção à entrada de gelo que dá acesso à agulha do Midi.
Quando nós estávamos próximo da ponte que liga as duas partes da agulha alguém grita de lá de cima para nos despacharmos que o ultimo teleférico vai sair (isto em Maio em que há menos gente e o teleférico fecha mais cedo). Só tivemos tempo de acelerar no último lance, tirar os crampons, enrolar a corda nos braços e correr para a cabine. Quando entramos atiramos as cordas para o chão nem conseguíamos falar um com o outro de tão secos que estávamos…

Dias depois soubemos que outra cordada já tinha apanhado melhores condições e conseguido fazer metade das nossas 15 horas. Um pouco de sorte às vezes ajuda…

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