AGULHA PEIGNE [Les Lépidoptéres + Via normal]

Apesar de estarmos em Julho as condições de neve estão péssimas. Chegamos a Chamonix com a ideia da neve e acabamos por optar pela rocha. Mesmo isso terá que ser no intervalo do mau tempo. Acabamos por alterar o projecto e decidir pela Agulha do Peigne subindo pela sua via normal mas iniciando pela Les Lépidoptéres.
Enquanto a primeira data do inicio do século vinte a segunda foi aberta em 28 Julho 1986. Com esta opção queremos entrar mais alto na via normal evitando assim as outras duas entradas habituais: o terreno com muito cascalho da normal ou a concorrida aresta dos Papillons.

Ambos já conhecemos a via Les Lépidoptéres. É uma via com algum equipamento – nos locais certos – mas na sua maioria é necessário colocar protecção. A dificuldade máxima é 5+ sobre um terreno de fissuras sobre placas tombadas. É possível fazer só esta via e rappelar por ela. É obrigatório cordas de 50 mts (melhor se maiores) e é necessário atenção nos dois primeiros rappeis já que a corda tem tendência para prender nas fissuras quando desce.
Apesar de serem 6:30 da manhã estamos a escalar de t-shirt térmica e só arrefecemos um pouco mais nas reuniões. Vamos alternando os lances até atingir o final da aresta dos Papillons. Aqui observamos uma grande avalanche numa das laterais dos Esporão Frendo. Está mesmo quente para esta época do ano!

A partir deste ponto a via baixa de dificuldade seguindo a aresta num terreno fácil de mas onde é necessário manter atenção. A aresta vai-se alargado até chegar a uma zona onde o caos de blocos é a principal dificuldade. Nesta zona, e para quem estiver à vontade neste tipo de terreno e altura, é possível desencordar para aumentar a velocidade de progressão. Foi o que nós fizemos e seguimos assim até à brecha a 3043 mts existente entre o Peigne e um grande gendarme.

A partir deste ponto as dificuldades aumentam novamente e é notável como em 1906 os primeiros escaladores passaram por aqui com pouco mais que umas botas de andar na rua e uma corda à cintura! Voltamos a encordamo-nos e escalamos vários lances onde encontramos várias reuniões equipadas e material na via. A via segue uma tendência para direita em direcção a outro colo mais alto que liga o Peigne com a Agulha dos Pèlerins.

Faltavam entre 3 a 4 lances para o cimo e o tempo deu uma reviravolta e obrigou-nos a tomar a decisão que nos pareceu mais acertada: começar a descer. Faltavam-nos 800 metros para voltar a ter os pés no chão e várias horas para que isso acontecesse. Voltamos a destrepar ou rapelar todo o que tínhamos subida até essa altura até chegar ao cimo da via Les Lépidoptéres. Aqui, em vez de descer por esta, rapelamos para a via original e descer por esta até ao glaciar. Quando chegamos aqui começam a cair as primeiras gotas de chuva.

Depois de acabar os destrepes e atravessar parte de um neveiro para chegar a terra firme, contornamos a base do esporão dos Papillons e apressamos o passo para conseguir chegar ao teleférico quase sem nos molharmos. Daqui olhamos para o cimo da Agulha do Peigne para a vermos ir desaparecendo no meio das nuvens. Nos dias seguintes a chuva volta a cair em altitude.


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