CANTARO MAGRO [via deslarga-te]
Em 2000, durante a preparação para escalar no vale de Yosemite, eu, o João Ferreira e o Miguel Grilo, abrimos uma via na face virada para o corredor dos Mercadores. Como o objectivo era treinar para as grandes vias do vale também esta abertura foi realizada com toda a logistica que implica uma via de varios dias: sacos carregados com comida para varios dias, agua e equipamento de abrigo, hamacs, todo o material para artificial, etc.
O relato e descrição mencionada abaixo foi a publicada na saudosa revista “Montanha” uns meses após a escalada.
Mais tarde o primeiro lance, que inicia na lateral da agora conhecida Placa dos Mercadores, seria forçada em livre em 2006 pelo Paulo Roxo e o Bruno Gaspar resultando num 6c a material.
Uma nova via…?
Foi com alguma ânsia que nos preparamos para este fim de semana. Será que era agora que iríamos terminar a via que já tínhamos começado duas vezes? Desta vez iríamos viver pendurados na parede durante os próximos dois dias.
Como combinado encontramo-nos, em Seia num sábado de manhã do mês de Fevereiro. Fazem o grupo Carlos Araújo do Porto, João Ferreira de Vila Real e Miguel Grillo de Coimbra.
O nosso objectivo seria uma nova via na face sul do Cântaro Magro na nossa conhecida Serra da Estrela. Aproveitamos a ocasião de nesta altura do ano não haver muita gente na serra. O sossego seria o nosso companheiro.
Já no Cântaro, e enquanto o João se dedicava ao primeiro lance e o Miguel o segurava, o Carlos tratava de transportar para a base os quilitos necessários à nossa aventura.
O nosso espanto foi enorme no final deste lance. Na plataforma onde pretendíamos montar a reunião encontravam-se já dois parabolts e respectivas chapas. Apesar de todo o lance se encontrar bastante sujo, e inclusive com pedras soltas, no cimo de estava uma reunião montada com aspecto recente. Será que já alguém já fez este lance ou preparava-se para o fazer? Ou esta reunião serviu para outro efeito? Agradecemos que se alguém conhecer a historia desta reunião nos contacte para podermos completar e corrigir o nosso croqui e mesmo discutir graduações do lance.
A tarde já ia longa e resolvemos dormir nesta pequena plataforma. Enquanto o João equipava o lance do dia seguinte, preparamos os nossos três hamacs para passar a noite.
Fotografias que serviram de base à via
No segundo dia, após ter o material arrumado nos petates, dedicamo-nos a sair deste pequeno torreão e a subir o quarto lance, o único que já tinha sido realizado na totalidade por nós nas duas outras tentativas.
Após o Miguel o concluir, calhava-me a mim terminar o lance de onde tinha descido a meio da ultima vez. Devido a existirem uma serie de blocos soltos, um pouco maiores do que uma bola de basquete, entalados no tecto que atravessamos, este lance foi bastante mais equipado do que inicialmente pensamos.
No final esperava-nos, mais dois lances mais fáceis pelo meio dos grandes blocos que dão acesso ao cimo do Cântaro.
Era já noite quando chegamos à junto dos carros e arrumamos o material.
Assim ficou mais uma via (quase?) nova na nossa mais alta serra de Portugal. Serra que este ano encontra-se especialmente despida de neve.
Via: Deslarga-te
Dificuldade: A2/IV+
Comprimento: 150 mts.
Localização: 1º parte: Face Sul Cântaro Magro, fissura evidente antes do estreitamento do Corredor dos Mercadores
2º parte: pequeno diedro – fissura existente no caminho que dá acesso ao cimo do Cântaro, sobre qual existe um grande tecto
Abertura: 19/20 Fevereiro 2000 por Carlos Araújo, João Ferreira e Miguel Grillo
1º Lance
Entrada por um diedro sujo, e com alguns blocos soltos, para dar acesso a uma evidente fissura que se avista de imediato quando descemos pelo Corredor dos Mercadores e ele alarga. Percorrer a fissura, tendo cuidado com os blocos soltos logo no inicio e a meio (head do lado esquerdo), até atingir uma plataforma e a reunião (dois parabolts que já existiam , um deles com a rosca muito saída fora).
2º Lance
Da plataforma, ou tomar o pequeno diedro por cima (mais difícil e onde se encontra, do lado esquerdo, um parabolt usado para montar os hamacs durante a primeira ascensão), ou circundar o bloco pelo lado direito para atingir uma zona plana e de blocos por cima. Seguir em frente para, em vez de subir os blocos mais verticais em frente, contornar pela esquerda até alcançar o caminho de dá acesso ao cimo do cântaro.
3º Lance
Entrada por um marcado diedro do lado esquerdo deste até ganhar altura para efectuar um pêndulo para o inicio do pequeno diedro – fissura (a partir da altura em que ele se encontra limpo e dá para proteger por um excelente friend 4)
Segue-se pela fissura/diedro, inicialmente pela própria fissura do diedro e a cerca de 2/3 por uma fissura na parte lateral direito do diedro. Reunião de parabolts no lado esquerdo do diedro.
4º Lance
Volta-se à fissura anterior por mais 1 a 2 metros para apanhar uma linha de parabolts que segue em direcção ao grande tecto do lado direito. Sob o tecto, e no final, existem alguns blocos soltos sobre os quais questionamos a sua estabilidade. Aconselhamos a que nesta secção não pitonem entre as placas sobre pena de o amontoado de blocos se desprenda do equilíbrio em que se encontra. Com uns passes sobre material alcança-se um novo parabolt para sair do tecto. Após mais 2/3 pontos está-se na reunião sobre uma plataforma (pontos da reunião afastados).
5º/6º Lance
Placas fáceis, por entre os blocos, até atingir o cimo.
Artigo revista “Montanha” ano 2000
2 jogos de friends do 0,5 ao 3,5 (bastante os n.º intermédios)
1 Camelot n.º 4 ou equivalente
2 jogos de Alliens (os 3 primeiros números)
1 jogo de Stoppers
1 jogo de MicroStoppers
1 jogo de CamHooks
Chapas recuperáveis (para o 4º lance)
30 express
2 knifeblades
2 babyangles
2 Lost Arrows
1 Head (1º lance se eventualmente tiver saído o que estava colocado).