NARANJO DE BULNES [via paso horizontal]
A via do Paso Horizontal foi a quarta via a ser aberta no Naranjo de Bulnes, depois da Canejo-Pidal, da Schulze e da Victor. Sendo o segundo percurso aberto na cara sul tem talvez um dos lances mais bonitos desta face.
Se enquanto a escalamos, imaginarmos que esta via foi aberta em solitário em 1928, só podemos ter um enorme respeito pelos escaladores daquele tempo. Foi Manuel Martinez que em 08 Agosto de 1928 subiu pela primeira esta linha destrepando-a para regressar novamente à sua base. Quando regressou à Majada de Camburero os outros pastores não acreditaram nele. No mesmo dia regressou à face sul, desta vez acompanhado de outro vizinho, Manolim Mier Campillo, sobe novamente pela mesma via e volta a destrepá-la. Desta vez trazem o livro de registos que se encontrava no cume. Depois da fazer acreditar os outros vizinhos da sua subida, no dia seguinte volta a repetir a via para devolver o livro ao seu lugar. Uma magnifica actividade em dois dias…
Esta via é a ultima linha aberta até ao momento no lado direito da face sul. O seu percurso evita as dificuldades das placas e tectos através de uma fantástica e aérea travessia que lhe dá o nome: paso horizontal.
1º lance – inicia pelo evidente esporão oriental que escalamos através da subia de vários blocos que ligam a uma evidente e fácil chaminé. A meio desta encontramos os parabolts dos rappeis da via Teógenes onde realizamos a primeira reunião.
2º lance – subimos um pouco e, antes verdadeiramente entrarmos na parte mais estreita da chaminé, passamos para esquerda subindo uma placa com boas presas no final da qual encontramos uma plataforma inclinada. Desta sai uma chaminé fácil (um pitão) até chegarmos antes de uma pequena pança (reunião com 2 parabolts).
3º lance – saímos em direcção a uma evidente fissura que nos permite passar a pança. Este passo tem um cordino a proteger mas é possível reforçar. A seguir à pança o canal perde dificuldade e vemos logo as reuniões montadas em pitões. Nós montamos um pouco mais abaixo, usando entaladores mas mais em direcção à travessia, não necessitando de descer tanto para a iniciar.
4º lance – este é o lance da famosa travessia do “paso horizontal”. Inicialmente a travessia é ligeiramente descendente aproveitando os socalcos de rocha (llambrias) para contornar a zona de curvatura. Aqui encontramos pitões para proteger. A seguir, e já em travessia ascendente, alcançamos a reunião da Sul Directa. Esta travessia vem em muitas descrições com uma reunião a meio mas, com cordas de 50/60 metros, é perfeitamente possível realizá-la de uma única vez. O problema que se coloca é comunicação entre os membros da cordada. Mas nada que não se resolva com manobras previamente definidas. Pelo meio da travessia podemos encontrar alguns pitões e cintas já colocados mas é bastante acessível para colocar mais entaladores. Apesar de aérea a travessia não é difícil mas sem duvida bastante espectacular pelo ambiente e o “pátio”.
5º lance – este lance já coincide com o quarto lance da Sul Directa. Seguimos os “canalizos” com tendência para direita acabando por efectuar uma ligeira diagonal para a esquerda para alcançar a reunião de rappel equipada.
Daqui resta-nos uma escalada fácil até a aresta por cima do anfiteatro e depois até ao cume. É de todo preferível avançar sem corda (se necessário usar encordamento curto) de forma a não arrastar as muitas pedras soltas existentes no anfiteatro.
Para descer voltamos à ultima reunião equipada (onde podemos deixar as cordas enquanto vamos ao cume) e usando as reuniões equipadas desta face rapelamos até à base. É obrigatório ter cordas de pelo menos 50 metros e não saltar rappeis se não temos a certeza se chegam. Já assisti a manobras bastante arriscadas só por ficarem a meio. São quatro rappeis de 50 metros e três de 60 o que pode causar alguma confusão.
Na base é aconselhável estar o mais junto possível da parede ou afastar-nos bem de forma a evitar as pedras podem cair do anfiteatro. O intermédio é um risco. Também para recuperar as cordas do ultimo rappel ajuda bastante afastarmo-nos da parede com a ponta e ir puxando de forma evitar entalamento da corda ou pedra solta.