PEÑA TELERA [gran diagonal]
Peña Telera é uma grande e procurada parede situada no vale de Tena, Huesca, no pirineus.
Com numerosas vias abertas, quer de verão quer de inverno, uma das mais clássicas é sem duvida a Gran Diagonal.
Tal como maior parte das vias desta parede, a Gran Diagonal tem um grande envolvimento e compromisso que pode passar despercebido face à sua dificuldade relativamente acessivel. No entanto, se somarmos tudo o que envolve – aproximação, escalada, subida ao cume, localização dos rappeis e descida – estamos a falar de uma actividade de umas 10 a 16 horas. Isto se não houver atrasos ou nos perdermos no acesso à descida.
São varios os casos de bivaques próximos do cume porque houve atrasos pelas condições da via ou outros, pioras no tempo, em que as consequencias foram mais ou menos graves.
No entanto, e apesar de ser uma via que deve ser preparada e estudada com a devida atenção, é uma linha interessante e concorrida.
Com uns 700 metros de comprimento e vários ressaltes mais empinados, tem um excelente ambiente alpino e umas vistas fantásticas.
Em 2016 tinha tentado fazer esta via mais ou menos na mesma altura do ano. Nesse ano as condições estavam muito diferentes… muita neve e avalanches impediram-nos de nos metermos no corredor…
Comparação dos mesmos picos da zona de Balneario de Panticosa em 2022 e 2016
Desta vez o que caía era blocos de pedra e gelo pela temperatura estar alta para a época. Uma cordada que estava à nossa frente no cone de entrada do corredor – talvez a zona mais exposta – chegou mesmo a apanhar com uma pedra que os obrigou a descer. Nós, com alguma seleção mais cuidada dos locais das reuniões, e alguma sorte, tudo o que caiu passou longe.
Fruto também da pouca neve encontramos os ressaltes mais verticais, a dar mais luta e em gelo.
APROXIMAÇÃO
Deixamos o carro junto à entrada do Parque Faunístico de Lacuniacha, um pouco acima da povoação de Piedrafita de Jaca. Aqui é necessário algum cuidado na escolha do local pois alguns dos estacionamentos são pagos e multam quem deixar o carro nesses locais sem efectuar o pagamento.
O melhor caminho segue inicialmente o estradão de terra onde está o controlo de entrada para, um pouco mais à frente, iniciar alguns cortes que reduzem o caminho a percorrer. Alguns desses cortes são bem visíveis outros nem por isso (e a aproximação nocturna não ajuda) pelo que levar o trilho de gps no telefone pode ser uma optima ajuda.
O último dos cortes segue a indicação para o Ibon de Piedrahita. A partir daqui o caminho torna-se mais evidente e o nascer do sol já nos ajuda a encontrar o cone de entrada.
A VIA
Dada a longitude e compromisso da via é aconselhável entrar cedo. Nós começamos pelas 7 horas e talvez tivesse dado jeito ter começado meia hora, a uma hora mais cedo de forma a garantir menos queda de coisas na entrada.
Da entrada no cone até à zona mais estreita do corredor são sensivelmente uns 350 metros de 40/50º. Umas dezenas de metros depois do corredor começar a encontramos o primeiro ressalte. Este ressalte, em anos de muita neve, pode ser consideravelmente mais suave e simples.
Com pouca neve, como nós o encontramos, são uns 4/6 metros de 65/70º de inclinação. O local habitual onde é efectuada a reunião após o ressalto, e onde podemos encontrar um pitão com fitas, é exposto à queda de neve e bloco das zonas superiores pelo optamos por efectuar um pouco mais acima, mesmo perdendo na comunicação e visibilidade.
De uma forma geral o local o lado mais seguro para montarmos as reuniões é do lado direito do corredor. Deste lado ficamos protegidos do que cai da zona mais alta, onde bate o sol, e tudo o que possa cair das cordadas que possam existir mais acima.
Após o primeiro ressalte temos hipótese de evitar os dois ressaltes seguintes – que na minha opinião tornam a via mais interessante – fazendo um desvio por uma variante existente do lado direito. No entanto esta variante só é possível quando a neve a cobre integralmente.
A dificuldade dos ressaltes seguintes é muito similar. O segundo são uns 4/5 metros de 65/70º. O terceiro, formado por duas pedras entaladas, é de uns 4 metros de 65º, ou IV/IV+ caso esteja seco. Entre eles os ressaltes encontramos zonas de intervalo com uns 45/50º.
Acima do 3º ressalte passamos por uma zona conhecida pelo nome de “Mirador”. Uma travessia horizontal com uma excelente vista mas, apesar de não ser complicada, não permite falhas. O corredor volta a estreitar para continuar numa inclinação dos 50º até ao 4º, e último, ressalte antes do colo de saida. Este, tal como o primeiro, pode variar imenso com a quantidade de neve existente. Com pouca neve é passagem de sensivelmente IVº.
Depois de chegarmos ao colo podemos subir ao cume de Peña Telera ou cortar à esquerda um pouco acima da saída em direcção Cuello de Telera. Se decidirmos ir ao cume devemos contar com mais 1h30 a 2 horas para ir e regressar a este desvio.
DESCIDA
Do Cuello vamos contornar a zona do cume, mais ou menos na horizontal, até chegarmos ao lado contrario. Daqui podemos optar por uma das duas linhas de rappel: ou corredor Y, habitualmente mais concorrido por ser mais perto, ou o corredor Z, mais longe do primeiro cerca de 30 minutos.
A via normal, conhecida como “Paso Horizontal” é de todo desaconselhável no inverno. Além de ser muito exposta é fácil de perder em caso de más condições atmosféricas ou quando está de noite.
Nós optamos pelo primeiro pois não tínhamos ninguém. Contrariamente aos dois rappeis indicados em varias descrições encontramos quatro reuniões equipadas com argolas. Isto sem contar com a possibilidade do primeiro ser do lado esquerdo ou direito pois existem duas reuniões equipadas, uma mais acima do lado esquerdo (só útil para cordas de 60 metros) e outra sobre direita para quem está de frente para a descida, montada por baixo de um pequeno tecto e uns cinco metros do cimo. Os rappeis precisam de pelo menos cordas de 50 metros apesar que de 60 é mais aconselhável.
O segundo rappel está montado numa ponte de rocha e um pitão dentro de uma cova. Uma parte dos escaladores desce daqui até a corda acabar e depois destrepa. Ao recolher a cordas é melhor vir um pouco fora da cova pois existem vários locais onde o nó pode ficar preso além do grande atrito que vamos sentir. Nós encontramos uma nova reunião 30 metros abaixo da cova, montada com duas argolas num bloco à direita da descida, e optamos por fazer nova descida daqui. É possível que este rappel, em anos de muita neve, fique tapado e não se veja.
No fim deste terceiro rappel voltamos a encontrar nova reunião, esta montada mais alta com uma argola, um pitão e cintas, sobre a esquerda numa zona em que o corredor alarga e bem protegida do que possa cair de cima. Daqui fizemos mais 60 metros e começamos a destrepar.
Pareceu-nos que os primeiros 200 metros seriam mais inclinados do que o indicado em algumas descrições mas o lusco-fusco do anoitecer pode ter influenciado a nossa percepção (apesar de já ter lido outras opiniões no mesmo sentido). De qualquer forma inicialmente poderá rondar os 45º, e necessitar de ser destrepado, para ir baixando para uns confortáveis 30º onde é possível andar.
Resta-nos descer os 500 metros de desnível até perto do Ibon de Piedrahita para encontrar o caminho de subida e por sua vez o estradão.
Horários de referência
Carro – base do corredor: 1h30 / 2h00
Corredor – 4h00 / 6h00
Colo saída corredor – cume: 1h00 / 2h00
Cume – cimo corredor Y: 1:30 / 2h00
Rappeis e destrepe: 2h00 / 3h00
Descida até ao carro: 2h00
Água – é necessário levar água pois não existe abastecimento fiável perto das paredes e ao longo da via
Dormida – fruto das pistas de ski existem muitas opções na zona. Já usei duas soluções que são as que comento. Uma é a Residencial Bubal, que fica mais perto de Peña Telera, mas sem lojas ou restauração perto. É uma area com pequenos apartamentos a um preço excelente para a zona. Apesar das instalações serem antigas algumas remodelações recentes e o preço transformam numa optima opção. A outra é o parque de campismo Escarra. Tem zona para acampar, bungalows e hotel. Mais caro nas ultimas opções, é uma solução para quem quiser ficar próximo de um centro populacional.
Rocha – a rocha é calcario, por vezes muito fragmentado nas zonas altas, mas nem sempre bom para proteger. Muitas das fissuras, que ao longe parecem opções, acabam por serem cegas o que obriga a algum procura por ser compacto ao longo do corredor