PICO MALDITO [diagonal jean arlaud AD+ (IV/55º) | 500m]


      

A Diagonal Jean Arlaud é uma interessante via no maciço Maladeto / Aneto. Mais ainda se pensarmos que foi feita pela primeira vez nos anos 30 do século passado, quando ainda não existiam refúgios nem estradas de acesso! Esta via foi aberta pelo médico francês Jean Arlaud (1896-1938), grande apaixonado pelos Pireneus onde deixou a sua assinatura em várias fantásticas linhas. Foi também participante da primeira expedição francesa ao Himalaia em 1936, onde participou como médico. Durante esta expedição foi filmado o filme Karakoram de Marcel Ichac, que ganhou o Leão de prata no Festival Internacional de Cinema de Veneza de 1937.
É uma via em um vale salvagem como é o de Cregueña, muito alpina e completa onde encontraremos escalada em rocha, neve e misto, aproximações e regressos longos e rappeis para sair.

 

APROXIMAÇÃO


A ascensão desta via começa no Plan de Senarta, a que acedemos da estrada que passa em Benasque em direcção a norte. Daqui subimos pelo vale de Valliberna até ao refúgio dos Pescadores ou de Corones.
A subida deste estradão pode não ser possível devido a algum deslizamento de terra ou pedras ou pela presença de neve. Esse é um dos motivos pelo que devemos optar por fazer a via mais para o final da época de forma a evitar estas duas questões. De qualquer forma será sempre aconselhável confirmar a situação no centro de interpretação Parque Natural Posets -Maladeta (mais informações em https://www.aragon.es/-/parque-natural-de-posets-maladeta) que existe em Benasque. Caso não seja possível subir de carro até ao refúgio dos Pescadores teremos que somar mais uns 8 kms e 700 metros de desnível. É de todo agradável que o estradão esteja operacional! De qualquer forma estamos a falar de um estradão de terra batida pelo que ir com um carro um pouco mais alto é aconselhável. É possível ir com uma viatura mais baixa mas de depende dos estragos causados a cada inverno. Entre Julho e Setembro este acesso está vedado a viaturas particulares só sendo possível subir em transporte publico que sai de Plan de Senarta.

 

 

Do refúgio dos Pescadores continuamos até aos Ibones de Corones para de seguida subir para o Collada de Creguena. Ao chegar a esta já vemos a via do seu lado direito. Só temos que atravessar em diagonal até à sua base. Atenção que existem algumas partes onde uma queda pode ter graves consequências.
Face ao desnível, e horas envolvidas na aproximação, nós optamos por dividir a subida em duas partes. No dia anterior à escalada subimos do refúgio dos Pescadores até aos Ibones de Corones, onde passamos a noite, fazendo a via no dia seguinte. Também é possível fazer de uma única vez, saindo do refúgio dos Pescadores ou de Benasque, mas aí teremos que somar mais umas 3 horas e 800 metros de desnível, só desde o refúgio, mais a subida do estradão do vale de Vallibierna, caso não haja algum impedimento.

 

 

NA VIA


A Diagonal propriamente dita é uma via que podemos dividir em duas partes. Os primeiros 100 metros são de escalada em rocha seguidos de cerca de 450 metros de neve e misto.
Esta é uma via a fazer mais para o fim da temporada, de meio de Março para frente, de forma a que possamos encontrar a zona inicial da via mais ou menos limpa de neve e gelo mas mantendo condições do restante corredor.

Lance 1 (40m) – A via inicia num evidente diedro que nos deixa na primeira reunião. Mais ou menos a meio encontramos o passo mais difícil do lance (IV) onde alguns blocos soltos para os quais devemos ter alguma atenção, em especial porque os restantes cordadas estão directamente na linha da queda. A escalada tem boas presas de mãos e de pés assim como várias possibilidades para proteger. Após esta passagem continuamos por terreno mais fácil até uma reunião “equipada” com cintas e cordinos que convém reforçar.

Lance 2 (40m) – Continuamos agora em travessia sem subir muito em direcção a um diedro-chaminé que veremos ao nosso lado esquerdo. Se seguimos por aqui cruzaremos a zona de escorrência do corredor. Ao chegar à parede em frente destrepamos uns blocos para entrar no canal-diedro. Não seguir em frente! Podemos optar por descer um pouco e atravessar por uma zona de rocha mais plana, mas mais lisa, e que poderá ter verglass. Após esta travessia continuamos pelo canal. Se está seco encontraremos muitos blocos soltos, em especial na parte inicial do canal. No cimo deste teremos o passo de mais difícil (IV) que passaremos sobre o lado direito para continuarmos por uma zona de placas que nos permite contornar os grandes blocos que encontramos no cimo do canal. No cimo das placas encontramos várias fissuras e blocos que nos permitem montar a reunião.

 

 

Lance 3 (30 m) – Este lance liga a zona de rocha ao corredor propriamente. Seguimos por terreno fácil, com tendência para a direita, para alcançarmos o início do corredor onde podemos montar reunião.

Lance 4 (60 m) – Entramos agora nas primeiras rampas do corredor (50º) que atravessamos em direcção ao seu lado direito até ao cumprimento da corda. Aqui encontramos uma parede de rocha com fissuras e um pitão para montarmos a seguinte reunião.

Lance 5 (150 m) – consideramos um lance mas basicamente será o percorrer dos próximos 150 metros do corredor (40/50º) em cordada em movimento (colocando material intermedio para segurança!) ou guardando as cordas e subindo até colo existente no cimo desta parte e antes da primeira travessia. Isto claro segundo as condições e à vontade de cada participante. Nós não encontramos as condições perfeitas e subimos em movimento protegendo regularmente na rocha.

Lance 6 (50 m) – Aqui encontramos a primeira travessia (45º). Se a neve está dura ou em gelo é algo exposta pois é difícil de proteger a não ser com uma ancora, estaca ou pitão de gelo. A travessia é algo ascendente e termina numa zona de blocos onde é possível montar reunião.

Lance 7 (60 m) – Neste lance teremos a segunda travessia que é bem mais exposta que a primeira. É possível proteger num bloco a meio ou então com uma estaca. Por ser algo mais vertical que a primeira (50/55º) e a orientação que tem, é possível que encontremos condições mais duras do que na primeira. No final da travessia, e no limite da corda, montamos reunião em rocha do lado direito do corredor por onde vamos seguir.

 

 

Lance 8 (50 m) – Segundo as condições, e havendo neve suficiente, é possível seguir em cordada em movimento a partir daqui. Nós encontramos o corredor mais seco e técnico pelo que seguimos fazendo lances. Uns metros a seguir à reunião temos um ressalte que estando seco pode estar em gelo (55º) ou blocos de rocha. Logo a seguir baixa a inclinação e continuamos até estendermos o comprimento da corda. Montamos reunião sobre rocha e do lado direito de forma a estarmos protegidos de possíveis blocos do lance seguinte

Lance 9 (60 m) – Este lance contorna pela direita, e seguindo sempre a zona mais acessível, os grandes blocos que temos na vertical da reunião. Continuamos por terreno de misto por um canal à direita para, passados uns 10/15 metros, virarmos 90º à esquerda para encadearmos com a parte superior do corredor, já por cima dos blocos que víamos da reunião. Continuamos até a corda terminar montando reunião na lateral direita sobre rocha.

Lance 10 (40 m) – Resta-nos os metros finais até ao colo onde já vemos o vale de La Besurta e todo (ou o que resta dele) glaciar do Aneto. Será melhor fazer reunião neste colo de forma a evitar o atrito.

Lance 11 (30 m) – Contornamos agora por terreno fácil, e pelo lado do vale de La Besurta, até alcançarmos a zona do topo do Monte Maldito

 

 

DESCIDA


Do cimo do Maldito seguimos a aresta em direcção a este (para o Aneto) seguindo pelo seu fio até à Punta Astorg, um dos 3000 dos Pirenéus. O terreno é simples, a aresta é larga a maior parte do tempo e em 10 minutos estaremos na sua base.

Ao chegarmos à Punta Astorg encontramos dois locais com rappeis equipados com cordinos em pontas de rochas e maillons (levar cordinos para reforçar!). Um mais próximo da Punta propriamente dita e outro num canal uns três metros antes. O rappel do canal é mais baixo e exposto pelo que optamos pelo que está mais próximo da Punta. Neste as cordas ficam a passar numa aresta onde colocamos os pés mas esta é bastante redonda e tem o acesso mais confortável e seguro. Além disso o início do rappel também é mais cómodo.

 

São dois rappeis de 60 metros sendo que o primeiro é aquele que é mais perigoso com os muitos blocos soltos ao longo do canal por onde vamos descer. É aconselhável levar as cordas connosco em vez das atirar (evitamos que alguma pedra seja arrastada por elas e acerte mais abaixo) ou então optar por descer o primeiro em vez deste rapelar (técnica usada no canyoning e da qual sou cada vez mais fan). No final dos primeiros 60 metros encontramos outro rappel equipado com cordinos do lado direito por baixo de um grande bloco que nos protege das quedas de blocos da parte superior.

O seguinte rappel poderá não ser necessário (ou mesmo não se ver) se a neve estiver alta o que permite destreparmos a rampa de neve. Se optarmos por o fazer ficamos já em zona de terreno fácil.

Resta-nos descer até ao Ibon de Corones e fazer o caminho de subida até ao refúgio dos Pescadores.

 

Info

Dormida Refugio dos Pescadores (mais desnível num único dia) ou bivaque no Ibon de Corones.

Material – duas cordas 60 metros, cinco friends médios até #2 da Black Diamond, jogo entaladores, 2 pitões de gelo e estaca, ou ancora de neve, as condições, 6 expresses, cintas para alongamentos. Levar dois pitões de rocha tipo lamina pode ajudar a montar alguma reunião.

Previsão Meteorológica

              

 

 

Fotografias de Carlos Araujo, Ricardo Ferreira, João Vinhas e Paulo Barrote