TORRE SANTA MARIA ENOL [corredor marqués]

O corredor do Marqués é um conhecido percurso no maciço ocidental sendo um dos corredores mais percorridos dos Picos da Europa. O seu percurso é bem identificável até dos lagos de Covadonga tal é a amplitude deste maciço. Percorre a face norte da Torre de Santa Maria, ou Peña Santa de Enol (2487 metros) como também é conhecida.

Com umas vistas singulares sobre todo o maciço ocidental é um pico com muito ambiente alpino, tal como quase todo este maciço.

Em contraste com os outros maciços dos Picos da Europa neste não existe nenhuma estrada ou teleférico que facilite o acesso à zona mais alta. Todos os acessos tem que ser feitos a pé, sendo o que inicia mais alto é precisamente por onde começamos esta ascensão, Pan de Carmen, perto dos lagos de Covadonga, a 1050 metros de altitude.

APROXIMAÇÃO

Para chegarmos até Torre de Sta Maria subimos aos lagos de Covadonga e, quando atingimos a zona mais alta e vemos o primeiro lago – Lago Enol -, viramos à direita para um estradão de terra batida que dá acesso ao Refugio de Vega Enol, ao Mirador del Rey e a Pan de Carmen. O estradão está habitualmente em bom estado o que permite o acesso a carros relativamente baixos.

Panorâmica do Maciço Ocidental

Este corredor é possível fazer daqui num único dia se madrugarmos muito. No entanto será o dia bem duro pois só a distancia – uns 17 kms – e o desnível – uns 3000 metros de acumulado – são importantes.

Nós optamos por dormir no refugio de Vegarredonda, que no inverno tem um edifício que está aberto e que tem umas óptimas condições. Em algumas alturas é mesmo possível fazer estes 3,5 kms e 400 metros de subida iniciais de sapatilhas poupando os pés.

Desde o refugio subimos o vale em frente até desviarmos à esquerda para passar na base do primeiro Argao pelo Colado del Fragua. Continuamos pelo cimo do Jou Sin Tierra contornando, inicialmente, a meia encosta pela base dos Argaos que vemos à nossa direita. Um pouco mais à frente vamos nos afastando dos Argaos seguindo o caminho que vai para Peña Santa de Castilla. Desta forma evitamos os marcados vales que descem dos Argaos e que nos fariam andar a subir a descer.

Um pouco mais à frente das Barrastrosas, e antes de entrar no Jou dos Asturianos, desviamos para direita em direcção à parede da Torre de Sta Maria contornando uma serie de pequenos jous e altos. A entrada do corredor situa-se à direita e é de todo aconselhável a prepararmos todo o material na zona plana antes da ultima subida – La Cemba Vieya – pois a base não é de todo confortável para o fazer.

A VIA

Contrariamente ao habitual, a primeira vez que este percurso foi realizado foi a descer, por Don Pedro Pidal, em 1907. Só em 11 Março de 1973 foi realizada a primeira invernal por Juan José Iglesias Arrieta e José Ignacio Nuñez.

A via começa com um passo de rocha IIIº+ seguido por uma rampa de gelo de uns 45º. Esta zona pode estar mais ou menos seca tornando-se num terreno misto. É aqui, e no diedro do ultimo lance, que encontraremos as maiores dificuldades.

Há quem monte reunião logo após a passagem de rocha inicial mas nós optamos por alongar o lanço e ir directos à reunião sobre a esquerda equipada com cordinos por onde se efectua a descida.

Podemos encontrar uma serie de reuniões equipadas com pitões e cordinos, umas mais antigas do que outras, mas as habitualmente usadas, e indicadas para efectuar a descida, são anualmente recuperadas pelos guias.

Para o 2º lance saímos desde a primeira reunião subimos uma pala de uns 45º até encontrarmos nova reunião equipada com cordinos do lado direito.

No 3º lance encontramos a característica travessia horizontal que dá grande ambiente a este lance. Iniciamos saindo da 2ª reunião por uma rampa de 45º até atingirmos a parede rochosa à nossa frente onde encontramos umas reuniões antigas. Nós protegemos aqui e seguimos. A passagem é pacifica e muitas vezes está bem marcada das anteriores cordadas. É possível colocar a proteção de pitão de gelo ou uma estaca a meio de forma a proteger a travessia. No final desta voltamos a encontrar mais reuniões equipadas, desta vez com uns pitões e cordinos mais velhotes… mas é possível montar ou reforçar com entaladores.

O 4º lance (se o podemos chamar com esse nome) não é mais que uma travessia lateral com uma tendência sobre a direita, num terreno quase de 35º, até à base do diedro de saída que forma o ultimo lance. Também aqui encontramos uma reunião de alguns pitões e cordinos na rocha da esquerda e que podemos reforçar.

Este ultimo lance é onde voltamos a encontrar mais dificuldades. É uma rampa de uns 55/60º, habitualmente de gelo ou próximo disso, que no final tem uma zona de rocha que podemos contornar sobre a direita até montarmos a ultima reunião já próximo do sitio mais alto. Ao longo dele podemos colocar um ou dois pitões de gelo ou inicialmente na rocha da esquerda.

Resta-nos percorrer uns poucos metros de aresta até ao cume onde temos uma vista fantástica desde o mar até à enorme parede de Peña Santa de Castilla.

Para descer voltamos à reunião equipada no cimo do diedro final. Da nossa experiência parece-nos melhor não descer logo para a próxima reunião de rappel e recolher a corda da zona mais horizontal no inicio do diedro. A seguir atravessamos para a direita até encontrarmos a próxima reunião equipada.

O seguinte rappel é aquele em que faremos a travessia de forma inversa. Apesar de quase todas as cordadas a fazerem em rappel transportando as cordas, ou mesmo arrastando-as, a experiência do meu cordada no canyoning deu enorme jeito aqui. Ao contrario do que usamos na escalada no canyoning usam muitas vezes a descida de cima, controlada por quem está na reunião. Além de libertar as mãos de quem está a descer para as manobras que possa ter fazer com o piolet e de colocar as cordas logo esticadas, tem a grande vantagem de quem vai a descer não ter carregar com duas cordas e ao mesmo tempo ter que as libertar enquanto vai necessitando delas para rappelar. Um serviço muito mais limpo e rápido. Depois de já termos as cordas esticadas foi só descer em corrimão até à zona mais vertical e aí montar o descensor já próximo das reuniões antigas que tínhamos passado na subida. Em poucos minutos estávamos os dois na penúltima reunião de rappel.

Faltavam mais dois rappeis, sendo o ultimo suspenso na parte final. Deste ultimo convém puxarmos as cordas bem afastados da parede de forma a evitar que elas fiquem presas nos diversos blocos que existem abaixo da ultima reunião.

Só nos resta descer os 5 km até ao refugio, ou os 8,5 km até Pan de Carmen caso seja essa a nossa opção. Nós ficamos pelo refugio para no dia seguintes aproveitar as condições para nova actividade…